domingo, 6 de novembro de 2011

A formação de mulheres guerrilheiras no exercício de sua militância política


A luta armada contra a ditadura militar foi uma declaração de parte da população brasileira de que não aceitaria passivamente a imposição de um regime político repressor.
Homens e mulheres se envolveram ativamente no combate, tendo por ideologia a transformação das relações sociais e políticas.
Nas décadas de 1960 e 1970, havia uma distinção muito clara entre o público e o privado no que se refere aos papéis desempenhados socialmente por homens e mulheres.
Mudanças importantes foram estimuladas pelo movimento feminista, que ganhava forma na Europa, na década de 1960, e influenciou o discurso e o comportamento de mulheres brasileiras.75 Elas passaram a contestar e a protestar contra as desigualdades, reivindicando direitos iguais de expressão e atuação para ambos os sexos.
Também sob este prisma pode ser estudada a guerrilha do Araguaia, que recebeu apoio feminino, inclusive no campo de batalha. Incluir a ação de mulheres militantes nesta investigação se apresentou como um convite e uma provocação à pesquisadora. Afinal, não foram somente os homens que optaram por pegar em armas para defender uma convicção política e ideológica.
Ir para o conflito armado teve um duplo caráter transgressor para as mulheres, porque, além de lutar contra o regime político, elas estavam rompendo padrões sociais, combatendo também uma condição de inferioridade e submissão a que foram historicamente relegadas.
Ao engrossar as trincheiras da esquerda militante e da guerrilheira, as mulheres demarcaram novos espaços de atuação, num movimento que balançou o confinamento da esfera privada. De acordo com Ridenti, “a participação feminina nas esquerdas armadas era uma avanço para a ruptura do estereótipo da mulher restrita ao espaço privado e doméstico, enquanto mãe, esposa, irmã e dona-de-casa, que vive em função do mundo masculino”. É como se a mulher não conseguisse pensar ou agir por si, necessitando da tutela de um homem, ou como, se para exercer a sua militância, tivesse que negar a sua feminilidade. Alguns militares chegaram a afirmar que se uma mulher ingressava no movimento político é porque havia sido levada (ou influenciada) pelo pai, irmão, companheiro, e não por uma atitude ou opção individual. Pode até ser que isso tenha acontecido em alguns casos, mas é insensato generalizar.
A insurgência das mulheres na contestação à ordem, entre 1966 e 1968, deu-se, sobretudo, por meio do movimento estudantil, que forneceu a maioria dos quadros para os grupos de extrema esquerda..
No que se refere aos militantes do PC do B processados judicialmente pela ditadura, nas décadas de 1960 e 1970, 47 (18,1%) eram mulheres e 212 (81,9%) homens.
Quanto às mulheres que foram para o Araguaia, não há registro de processos judiciais, pois era estratégia dos militares não registrar as prisões. Os militantes não eram julgados e condenados, mas sim assassinados e incluídos na lista de “desaparecidos políticos”. Atualmente, com a publicação de documentos das forças armadas sobre a guerrilha do Araguaia, não há mais como negar que muitos foram mortos – alguns sob tortura – por agentes da repressão, inclusive com o aval dos presidentes militares.

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