domingo, 27 de novembro de 2011

Lista de integrantes da Guerrilha do Araguaia

A lista abaixo reúne os integrantes conhecidos da Guerrilha do Araguaia
. Nos parênteses os codinomes pelo quais eram conhecidos, batizados pela guerrilha ou dados pelos moradores da região.
  • João Amazonas (Velho Cid) - integrante do PCB desde a década de 1930 e um dos fundadores e secretário-geral do PCdoB, era o teólogo da guerrilha, e responsável pela ligação entre os guerrilheiros na selva e a direção em São Paulo. Entrou e saiu diversas vezes na área do Araguaia durante o período, transportando militantes, dinheiro e orientações políticas, indo para o exílio na Albânia após o aumento da repressão militar na área, que impediu sua movimentação. Voltou ao Brasil após a Anistia e morreu aos 90 anos, em 2002.
  • Elza Monnerat (Dona Maria) - integrante da direção do PCB, fazia com Amazonas a ligação entre o Araguaia e o sul do país. Responsável pelo transporte de diversos militantes até o local da guerrilha e uma das primeiras a se instalar no Araguaia, durante os preparativos para a criação do núcleo guerrilheiro, voltou à clandestinidade urbana após o aumento da repressão militar na área, que a impediu de retornar à região do conflito, como Amazonas. Presa em fins de 1976 e libertada com a Anistia, morreu em 2004.
  • Maurício Grabois (Mário) - Membro da cúpula do PCdoB, integrante da Comissão Militar do Partido e comandante-em-chefe dos guerrilheiros do Araguaia. Foi morto numa emboscada na selva em dezembro de 1973. Seu corpo nunca foi encontrado e sua morte jamais admitida pelo Exército. É dado como desaparecido.
  • Ângelo Arroyo (Joaquim) - membro da cúpula do PCdoB e militante comunista desde 1945, foi um dos líderes da guerrilha, integrante da Comissão Militar. Foi um dos dois únicos guerrilheiros que escaparam vivos do Araguaia, depois da última campanha militar que exterminou a guerrilha, fugindo a pé para o Piauí atravessando a selva e dali para São Paulo. Foi fuzilado em dezembro de 1976 por agentes do Doi-Codi numa casa no bairro da Lapa, em São Paulo, onde se realizava uma reunião do Comitê Central do PCdoB, no episódio conhecido como Chacina da Lapa.
  • Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão) - o mais carismático e temido guerrilheiro do Araguaia, negro, forte, 1,98 m e ex-campeão carioca de boxe, considerado mítico pelos moradores do Araguaia, foi morto num encontro com uma patrulha militar em janeiro de 1974. Seu corpo foi pendurado num helicóptero e mostrado em sobrevoo pelos povoados da região. Decapitado, foi enterrado em lugar desconhecido. É considerado desaparecido político.
  • Líbero Castiglia (Joca) - Italiano, foi o único estrangeiro que participou da guerrilha. Com treinamento militar na China, era ligado ao Destacamento A e fazia a segurança da comissão militar da guerrilha. Foi um dos primeiros militantes a chegar à região do Araguaia. É dado como desaparecido desde o ataque do exército ao comando guerilheiro, no Natal de 1973.
  • André Grabois (Zé Carlos) - Filho de Maurício Grabois e vivendo na clandestinidade desde os 17 anos por causa da perseguição ao pai, foi comandante do destacamento A da guerrilha. Morreu em combate junto a outros três guerrilheiros, durante tiroteio com patrulha do exército em outubro de 1973, após caçarem porcos-do-mato. Seu corpo nunca foi encontrado, é dado como desaparecido.




quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Brasil onde quem manda são os torturadores!


Infelizmente quem lutou por seus direitos foi preso, torturado, muitos desaparecidos e ate mesmo executado...
 Ja quem disse que tava defendendo o Brasil na verdade tava era torturando pessoas que lutavam por um Brasil melhor!


Postado por: Ellen Christien

domingo, 20 de novembro de 2011

As últimas ceias dos guerrilheiros


Depois de uma viagem à China para treinamento de guerra de guerrilha, em 1966, militantes do PCdoB se mudaram para a pequena cidade de Porto Franco, no oeste do Maranhão. Ficaram por lá durante um tempo (talvez um ano ou um pouco mais) à espera de ordens da cúpula do partido para se transferirem para o sul do Pará, região escolhida para instalar a guerrilha. Em Porto Franco, os guerrilheiros assumiram diversos disfarces (médico, comerciantes, agentes de saúde) e passaram a viver de forma pacata, animada e com um nível de conforto que não veriam mais.
FOTO 1
Não se sabe quantos guerrilheiros passaram por Porto Franco. O certo é que alugaram duas casas. Numa delas (FOTO 1, imagem recente), moravam o veterano líder do PCdoB Maurício Grabois (codinome Mário), seu filho André Grabois (Zé Carlos) e o genro Gilberto Olímpio Maria (Pedro). Na outra casa (FOTO 2), vivia João Carlos Haas Sobrinho (dr. Juca).
FOTO 2
Para manter seus disfarces, os guerrilheiros procuravam levar uma vida normal, misturando-se à população. Assim acabaram frequentando inocentes festinhas da sociedade porto-franquina, como mostram as fotos tiradas por moradores entre 1967 e 1968. Nas imagens, vê-se que, antes de descer ao inferno da guerrilha, os militantes do PCdoB celebraram a vida na companhia da povo que pretendiam representar. Comeram bem e brindaram com copos cheios, talvez pensando na revolução que nunca chegaria.
Não muito tempo depois que as fotos foram tiradas, os guerrilheiros enfim receberam ordens para deixar Porto Franco e se embrenhar nas matas do Bico do Papagaio, a 200 quilômetros adiante. Na guerrilha, viveram a vida bruta dos acampamentos na mata, passaram fome e se vestiram com andrajos. Quase todos morreram nas mãos do Exército.
FOTO 3
FOTO 3 – Dezembro de 1967. André Grabois (no fundo, de óculos) e Gilberto Olímpio Maria (à esquerda, em primeiro plano) participam da festa dos formandos da 4ª série do Ginásio Dom Orione. Há duas mesas servidas. A da direita, que aparece em destaque, é a mesa dos homens. Foi posta com esmero (repare nos copos de festa e na disposição simétrica dos pratos). A comida acaba de chegar: são oito tigelas bem-servidas. É possível identificar um punhado de pastéis, uma montanha de arroz e um prato que leva ovos partidos ao meio, tomates em rodelas e, como enfeite, azeitonas. Um zoom na imagem revela o que seria uma coxa de frango no prato que está à frente de André Grabois.
Os guerrilheiros estão com os cabelos cortados e penteados e vestem camisas claras e bem passadas. Esboçam um sorriso, mas o que revelam é uma certa tristeza. Os demais convidados parecem mais à vontade, e a mulher ao fundo, vaporosa, encanta o ambiente.
Em 1968, poucos meses depois daquela comemoração, André Grabois deixou Porto Franco para comandar o Destacamento A da Guerrilha do Araguaia. Deu tiros, assaltou um posto da PM e acabou morto pelo Exército, em 1973. No mesmo ano, tombou Gilberto Olímpio Maria. Os corpos de ambos permanecem desaparecidos.
FOTO 4
FOTO 4 – Ainda estamos na festa de formatura, mas agora na mesa da esquerda, a das mulheres, arrumada com tanto ou mais capricho que a dos homens. Toalha de babados bordada, copos finos e comida farta. A senhora de óculos, de 54, é apresentada aos moradores de Porto Franco como d. Maria. Seu nome verdadeiro é Elza de Lima Monnerat. Integrante do Comitê Central do PCdoB, é ela quem costuma buscar os companheiros em São Paulo e levá-los até o local da guerrilha.
Elza Monnerat foi um dos poucos guerrilheiros do Araguaia que conseguiram fugir da caçada promovida pelo Exército. Presa em 1976, em São Paulo, foi liberdade em 1979. Morreu em 2004, com 90 anos.
(Um detalhe curioso: anos depois do fim da guerrilha, quando souberam que seus antigos vizinhos eram guerrilheiros disfarçados, os donos das fotografias coloridas (monóculos) cortaram algumas delas para apagar os militantes do PCdoB. Nesta imagem, um corte apaga o rosto de Gilberto Olímpio Maria, que aparece na FOTO 1. Supõem-se que os donos do monóculo não identificaram que d. Maria também era guerrilheira).
FOTO 5
FOTO 5 – A comida já foi devorada; sobrou um garrafão no centro da mesa. A festa de formatura agora parece mais animada. Os mais velhos deixaram o ambiente e os jovens, inclusive adolescentes, tomaram conta. No canto direito, com o copo mais elevado para o brinde, aparece João Carlos Haas Sobrinho, o dr. Juca da Guerrilha do Araguaia.
Médico experiente, João Carlos Haas Sobrinho tinha consultório em Porto Franco. Em 1969, abandonou a cidade e o disfarce para se juntar aos companheiros que o esperavam no Bico do Papagaio. Morreu três anos depois, compondo a lista dos desaparecidos políticos.
FOTO 6
FOTOS 6 E 7 – Como é comum acontecer com os médicos do interior, João Carlos Haas Sobrinho era muito querido pelos moradores de Porto Franco e, por isso, sempre era convidado para as festas. Na FOTO 6, o dr. Juca (o mais alto) aparece numa festa da elite porto-franquina. Escondida por um papel já engordurado, a comida do jantar aguarda a hora de ser servida. Homens de terno, garrafas de espumante e o balde de gelo entregam: é um encontro “pequeno burguês”, como diriam os comunistas da época.
FOTO 7
Na FOTO 7, em outro evento, João Carlos Haas Sobrinho conversa com um morador de Porto Franco. Na mesa, garrafas de Pepsi Cola e um litro de “Pure Malt”.


Fonte: http://lfigueiredo.wordpress.com/2011/03/02/exclusivo-guerrilha-do-araguaia1-as-ultimas-ceias-dos-guerrilheiros/

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

MILITAR QUE LUTOU NA GUERRILHA DO ARAGUAIA RECEBE MEDALHA TIRADENTES



Um dos principais membros do Exército brasileiro que combateu, há quase 40 anos, durante a ditadura militar, operações guerrilheiras no Centro-Oeste e no Norte do País – episódio que ficou conhecido como Guerrilha do Araguaia –, o tenente-coronel Lício Augusto Ribeiro Maciel recebeu, nesta segunda-feira (31/03), a maior comenda concedida pelo Poder Legislativo fluminense, a Medalha Tiradentes. “Todos eles, especialmente os 16 combatentes que foram mortos por essas pessoas que diziam estar buscando uma democratização do Brasil, estão incluídos nessa honraria. Levando-se em conta as origens dos guerrilheiros, vemos que muitos estudaram em Cuba, alguns, inclusive, financiados pela Rússia, países que não têm nada de democrático. Era notável que a intenção era a de implantar um regime ditatorial de esquerda”, assegurou o autor da homenagem, deputado Flávio Bolsonaro (PP). “Vencemos a guerrilha com ensinamentos do Exército e nenhum de nossos combatentes foi morto de peito aberto. Foram todos covardemente assassinados. Eles deram a própria vida pela liberdade do País, assim como Tiradentes, cujo nome estampa essa homenagem. Nossa luta é exatamente para manter constante esse ideal de liberdade”, ressaltou o tenente-coronel. O grupo guerrilheiro a que se refere o militar era formado por integrantes do PCdoB, que pretendiam, a partir do campo, combater o governo militar e implantar um regime comunista no Brasil, à semelhança do que já havia ocorrido na China e em Cuba. Na ocasião, o combatente das Forças Armadas foi ferido, além de ter perdido 16 colegas de farda na operação. A guerrilha resultou ainda na morte da maior parte dos cerca de 80 revolucionários que combateram o Exército. “Graças a homens como o tenente-coronel Lício não temos, hoje, no Brasil, uma ilha de exclusão inacessível para o estado, assim como as Forças Armadas Revolucionárias (Farc) da Colômbia”, apontou Bolsonaro. O parlamentar destacou a importância de todas as versões da História serem contadas, e não apenas a dos revolucionários, para que se possa chegar a um conhecimento mais amplo de todos os fatos. “Os estudantes sofrem uma verdadeira lavagem cerebral nas escolas e nos bancos universitários, onde só chegam informações que interessam a pessoas de esquerda. Que democracia é essa totalmente parcial que nós vivemos, que lapida o cidadão desde sua formação, recriminando as Forças Armadas, o Poder constituinte e os militares de uma forma em geral?”, questionou o deputado. O tenente-coronel Lício decidiu expurgar as memórias daquele período no livro “Guerrilha do Araguaia – Relato de um Combatente”, que será lançado no próximo dia 8 de abril, às 17h, no Clube Militar, Centro do Rio. Nele, o autor faz, em 200 páginas, um relato minucioso da operação realizada para sufocar a guerrilha. “Calei-me durante todo esse tempo e, agora, resolvi colocar tudo no papel, para que todos pudessem tomar conhecimento dos detalhes dessa história”, contou o militar, que levou 12 meses para finalizar a obra. “Esses relatos vão servir de exemplo de garra e patriotismo aos mais novos e mais jovens que vão poder conhecer quem realmente eram os guerrilheiros. Eles cometeram o crime mais hediondo que já vi em uma guerra, mas não falam com vergonha. Um de meus companheiros foi morto e esquartejado na frente de sua família, com orelhas, mãos e dedos cortados diante de todos”, afirmou o tenente-coronel. 
 
Fonte: http://www.alerj.rj.gov.br/common/noticia_corpo.asp?num=24890

Ex-combatente confirma uso de injeção letal no Araguaia

Um ex-policial militar que combateu na Guerrilha do Araguaia (1972-1974) afirmou que ouviu de Walter da Silva Monteiro, um médico militar aposentado de Belém (PA), que a aplicação de injeções letais era um "golpe de misericórdia" em guerrilheiros comunistas combalidos pela tortura e maus tratos.

É o quinto ex-combatente do conflito que reconhece o coronel da reserva do Exército como sendo o "capitão Walter", médico que atuou na guerrilha. No domingo passado, o jornal Folha de S.Paulo publicou os relatos de outros quatro ex-soldados que reconheceram Monteiro por meio de foto.

Dois ex-combatentes, em gravação feita pelo grupo do governo federal que procura ossadas do conflito, levantaram a hipótese do uso das injeções pelo médico. Eles diziam, no entanto, que só tinham ouvido falar na relação entre Monteiro e as mortes pelo método químico. Já Josias Souza, 59, afirmou que o próprio coronel comentava sobre a vantagem das injeções.

"Ele próprio [dizia]: 'Vamos evitar uma bala, que custa mais', e aí acho que tinha um tom de brincadeira com vidas humanas, 'e vamos fazer isso de forma mais suave'", disse o ex-soldado.
Procurado pela Folha, Walter da Silva Monteiro negou ter participado da guerrilha. Afirmou que, no período, estava em Belém.

Souza -que aceitou dar seu nome, mas não mostrar seu rosto em vídeo gravado pela reportagem- estava no final de sua adolescência quando chegou, em 1974, na região do Araguaia. Após mais de um mês combatendo na selva, passou a trabalhar na base de Xambioá (TO), onde conviveu com o "capitão Walter".

Lá, afirmou, ajudou a retirar da enfermaria 17 cadáveres de guerrilheiros. Os corpos eram enterrados em covas verticais, cavadas pelos próprios presos, ou jogados, de helicóptero, em uma cachoeira no meio da mata.

Ele acredita que ao menos parte dessas pessoas foi morta com as injeções, chamadas de "mercadoria". Souza disse não ter presenciado as aplicações, mas chegado "no final do capítulo", "porque não se ouvia naquele momento tiro, e o comentário dos oficiais e a ordem [era] de conduzi-los [os cadáveres] a um local para que fossem colocados outros [guerrilheiros]" na enfermaria da base.

O ex-combatente hoje sofre de depressão, e diz ser incapaz de esquecer os gritos dados por guerrilheiros que eram torturados. "Até hoje isso me machuca muito. Eu tenho sofrido muito nas minhas noites, porque fica arquivado. O pior juiz fica dentro da nossa própria cabeça", disse.

Fonte: Folha de S.Paulo

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

"Houve mais camponeses mortos no Araguaia do que se diz"


Após uma viagem de 40 minutos de carro desde o centro de Marabá, parte dela feita em estrada de terra, chega-se a uma rua onde a lama impede a passagem do jipe. A única maneira de atravessar é a pé. São 20 minutos de caminhada na lama até chegar à casa do camponês Abel Honorato de Jesus, o Abelinho. O homem franzino é um dos posseiros da região onde foi implantada a guerrilha do Araguaia (1972-1975) e que foram obrigados a trabalhar como mateiros do Exército, ajudando na captura dos militantes que se instalaram por lá. Grande conhecedor da área e de parte dos guerrilheiros – Abelinho chegou a trabalhar no garimpo com Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, o mais famoso guerrilheiro do Araguaia –, o lavrador trabalhou com o Exército até 1983.
Recentemente, Abelinho tem colaborado com o trabalho da equipe do GTT (Grupo de Trabalho Tocantins) fornecendo informações e sustenta a tese de que o número de camponeses assassinados pelas forças do Estado durante o período da guerrilha é maior do que se tem notícia. “Eu conheço muita gente que morreu de taca [surra]”, conta. O ex-mateiro também afirma ter visto “muitos camponeses apanharem, serem torturados. Lavei sangue demais desse povo. Enrolavam um saco de estopa num rodo e eu empurrava o sangue dessa gente”. Além dos camponeses que aderiram à guerrilha e os que ajudaram os militantes com comida e suprimentos, também muitos mateiros foram assassinados, mesmo tendo colaborado com o Exército, recorda o lavrador.
Segundo o pesquisador Paulo Fonteles Filho, integrante da ouvidoria do GTT, embora se estime que o número de desaparecidos do Araguaia, entre guerrilheiros e camponeses, gire em torno de 100 pessoas, “eu tenho convicção que naquele processo foram mortas 500 pessoas ou mais”. Segundo ele, há informações novas que estão sendo reveladas por ex-soldados do Exército, que hoje subsidiam o GTT. “Há camponeses que estavam na mata como castanheiros e foram fuzilados por uma tropa, por exemplo. Nosso papel também é falar desses anônimos”, esclarece. De acordo com ele, a violência do Estado contra os moradores da região também foi “brutal”. “Eles foram maltratados, sofreram, foram torturados, perderam suas roças”.
Um dos ex-soldados que está colaborando com o GTT é Manoel Messias Guido Ribeiro, que combateu una base Xambioá. Ele conta que o tio de sua esposa foi morto de “taca” na serra das Andorinhas apenas por ter dado comida aos guerrilheiros. “Vi muitos camponeses presos”. Guido também presenciou a tortura de camponeses na sede local do Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (DNER), a chamada “casa azul”. “Ouvi gritos absurdos, arrastávamos corpos, vivos mas desmaiados. A gente jogava água em cima deles e levava de volta”.
Operação Limpeza
O ex-soldado maranhense afirma ter participado da “Operação Limpeza” de 1975, quando as forças de repressão ainda “caçavam” remanescentes do “terrorismo”, como possíveis colaboradores dos guerrilheiros. “Da segunda limpeza, feita para retirar os ossos, eu não participei, mas a gente ouvia falar: “estão arrancando ossos de gente por aí”. Guido afirma que a região esteve vigiada até 1980. “Ainda está hoje. Não pense que não está”, garante. Guido também diz se sentir inseguro “com o que estamos falando, pois estamos rodeados deles por aí”, acredita.
Em depoimento em vídeo colhido pelo GTT, Valdim Pereira de Souza, ex-funcionário, ex-militar e motorista do major Curió [oficial da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, um dos líderes da repressão à guerrilha do Araguaia], entre 1976 e 1983, relata que em 1976 participou da retirada dos corpos e ossadas dos guerrilheiros e camponeses mortos em muitas localidades da região. Sua missão era levar para a sede do DNER vários sacos amarrados com um cordão. “Os sacos pesavam cerca de 100 quilos e, dentro, soube depois, por meio de um servidor do próprio DNER conhecido por “Pé na Cova”, havia ossos humanos. O cheiro era insuportável. Os homens do Exército que comandavam a operação eram o doutor Luchini (Sebastião Curió) e os sargentos Santa Cruz e Ribamar”, disse. “Não tínhamos o direito de saber o que fazíamos, apenas cumprir a nossa obrigação e as determinações superiores”, completa.
Ameaças
Como resultado das denúncias, Valdim, assim como outros camponeses e moradores da região, foi ameaçado. Em dezembro do ano passado, ele recebeu ligações em seu celular, que diziam: “pare de falar besteira”, “fica calado, não te mete em encrenca”, “tenha cuidado com o que anda falando por aí”. Neste ano, as ameaças aumentaram. Em 2 março, uma caminhonete com película de insulfilm nos vidros rondou sua casa em Macapá, no Amapá. Valdim acredita que é Curió quem está por trás das ameaças: “O Curió é corajoso e me disse certa vez que quem fala muito morre, e dizia que ‘inimigo bom é inimigo morto’”.
Um carro com insulfilm também rondou a casa do representante da Associação dos Camponeses do Araguaia, Sezostrys Alves da Costa, no mesmo dia 2 de março, em São Domingos do Araguaia. Os quatro homens que estavam no veículo procuraram por ele e Paulo Fonteles.
Em 27 de março, Mercês Castro, irmã de Antônio Teodoro Castro, desaparecido político no Araguaia e membro do GTT, sofreu um acidente em Marabá. “As porcas de um pneu do carro foi afrouxado e a roda foi cuspida do carro. Denunciamos isso para a Polícia Federal, enviamos isso para a juíza Solange Salgado”, relata Paulo Fonteles. “Mas não vamos abrir mão do nosso trabalho. Pode vir ameaça, mas não vamos arredar pé daqui”, conclui. Segundo Paulo Fonteles Filho, o primeiro registro de ameaça ocorreu em junho do ano passado, “contra o camponês Beca, morador de São Domingos do Araguaia, que foi torturado pela repressão política e é colaborador do GTT”.

 Por Tatiana Merlino, de Marabá (PA) / Pública

Homenagem a "Zé da Onça"

Por Paulo Fonteles Filho

“A guerrilha para mim foi sangrenta e tortuosa” (Zé da Onça)

No tempo da guerra o meu amigo camponês tinha pouco mais de quinze anos: de menino fora lançado para a idade adulta depois que o pai, Frederico Lopes, fora preso no final de 1972.
A família, numerosa, até então desconhecia a fome. Em 1960, Frederico e Adalgisa chegaram do Maranhão com sete filhos, todos miúdos, para ganhar a vida em Marabá.
Depois de alguns anos de trabalho duro, de roça e garimpos de cristais, a família consegue juntar as economias e comprar 52 alqueires de terra na então currutela de São Domingos das Latas.
“A primeira vez que vi os ‘paulistas’ foi no começo de 1972, com as cargas de mercadorias compradas nos comércios do Saraiva, Sebastião Paiva e do “Capixaba”. Eles iam em direção do ´Chega com Jeito’, passando na nossa porta”. A direção tomada pelos guerrilheiros ficava às margens do Igarapé, o “Borracheira”. Ali ficava uma das bases do Destacamento A da insurgência araguaiana.
Lá moravam vários combatentes, dentre eles “Zé Carlos” ( André Grabois) e a “Fátima” (Helenira Rezende). O “Chega com Jeito”, explica, “ficava numa área de subida e no inverno era liso” e “tinha que chegar com jeito mesmo para não sofrer um tombo”. A casa dos guerrilheiros era “de três lançantes com um sofá de madeira corrida da paxiba”.
Logo, “Zé da Onça” se afeiçoou por aqueles “paulistas”.
A memória camponesa revelada nos faz romper com o estereótipo de que os combatentes só andavam sujos ou maltrapilhos pois “eles não deixavam o cabelo crescer, só andavam limpos, perfumados, pés limpos, pele limpa, mãos limpas, higiênicos, usavam repelente na mata”.
Quando a guerra estourou e as tropas oficiais invadiram a região e atacaram o “Chega com Jeito”, o filho do Frederico estava por perto “era muita rajada de amolecer a bosta, um trovoeiro esquisito”.
Iniciado o levante viu “Landim”(Orlando Momente) que usava um chapéu de couro de quati fazer uma arma de quinze tiros cujo o pente era confeccionado de artefatos de alumínio na qual “uma mola jogava a bala longe”.
Quando findou o primeiro cerco militar entre junho/julho de 1972 passou a participar das reuniões dos guerrilheiros. Naquelas duras condições os comunistas organizam a “União pelas Liberdades e Direitos do Povo” (ULDP) e passam a debater com os lavradores que resultou num programa de 27 pontos, espécie de agenda comum, unitária e de luta.
“Das reuniões participavam muita gente, gente do grosso, o pessoal da família do Dionor, do ‘Severininho’, do ‘Peixinho’, Pedro ‘Cantador’ e Raimundo ‘das Moças’. Lá na beira do ‘Água Branca’ era a base do ‘Piauí’(Antônio de Pádua Costa). Eles cantavam músicas que incluía o presidente, o governador, que o brasileiro estava criando o seu valor, liam poesias e gritavam pela liberdade”.
Em fins de 1972, Frederico fora preso por uma patrulha na casa de outro camponês, chamado Odílio. Na propriedade da família havia 18 linhas de arroz “trinca-ferro”, vermelho e curto. A colheita, generosa, havia lhes rendido 150 sacas, todas queimadas pelo Exército junto com a casa de moradia com tudo que havia dentro. Isso sem falar nos animais.
Menino, “Zé da Onça” teve que abandonar os estudos e virar “pai de família” aos 15 anos.
Toda a família ficou entregue a toda sorte de violências. Frederico,por exemplo, “ficou doido de tanto choque pelo corpo e passou mais de dois anos em Belém, no Juliano Moreira”, acusa.
Há mais de 15 anos que “Zé da Onça” luta pela reparação “dos sofredores da guerrilha”, lavradores pobres humilhados pelo estado brasileiro.


http://camponesesdoaraguaia.blogspot.com/

domingo, 6 de novembro de 2011

A formação de mulheres guerrilheiras no exercício de sua militância política


A luta armada contra a ditadura militar foi uma declaração de parte da população brasileira de que não aceitaria passivamente a imposição de um regime político repressor.
Homens e mulheres se envolveram ativamente no combate, tendo por ideologia a transformação das relações sociais e políticas.
Nas décadas de 1960 e 1970, havia uma distinção muito clara entre o público e o privado no que se refere aos papéis desempenhados socialmente por homens e mulheres.
Mudanças importantes foram estimuladas pelo movimento feminista, que ganhava forma na Europa, na década de 1960, e influenciou o discurso e o comportamento de mulheres brasileiras.75 Elas passaram a contestar e a protestar contra as desigualdades, reivindicando direitos iguais de expressão e atuação para ambos os sexos.
Também sob este prisma pode ser estudada a guerrilha do Araguaia, que recebeu apoio feminino, inclusive no campo de batalha. Incluir a ação de mulheres militantes nesta investigação se apresentou como um convite e uma provocação à pesquisadora. Afinal, não foram somente os homens que optaram por pegar em armas para defender uma convicção política e ideológica.
Ir para o conflito armado teve um duplo caráter transgressor para as mulheres, porque, além de lutar contra o regime político, elas estavam rompendo padrões sociais, combatendo também uma condição de inferioridade e submissão a que foram historicamente relegadas.
Ao engrossar as trincheiras da esquerda militante e da guerrilheira, as mulheres demarcaram novos espaços de atuação, num movimento que balançou o confinamento da esfera privada. De acordo com Ridenti, “a participação feminina nas esquerdas armadas era uma avanço para a ruptura do estereótipo da mulher restrita ao espaço privado e doméstico, enquanto mãe, esposa, irmã e dona-de-casa, que vive em função do mundo masculino”. É como se a mulher não conseguisse pensar ou agir por si, necessitando da tutela de um homem, ou como, se para exercer a sua militância, tivesse que negar a sua feminilidade. Alguns militares chegaram a afirmar que se uma mulher ingressava no movimento político é porque havia sido levada (ou influenciada) pelo pai, irmão, companheiro, e não por uma atitude ou opção individual. Pode até ser que isso tenha acontecido em alguns casos, mas é insensato generalizar.
A insurgência das mulheres na contestação à ordem, entre 1966 e 1968, deu-se, sobretudo, por meio do movimento estudantil, que forneceu a maioria dos quadros para os grupos de extrema esquerda..
No que se refere aos militantes do PC do B processados judicialmente pela ditadura, nas décadas de 1960 e 1970, 47 (18,1%) eram mulheres e 212 (81,9%) homens.
Quanto às mulheres que foram para o Araguaia, não há registro de processos judiciais, pois era estratégia dos militares não registrar as prisões. Os militantes não eram julgados e condenados, mas sim assassinados e incluídos na lista de “desaparecidos políticos”. Atualmente, com a publicação de documentos das forças armadas sobre a guerrilha do Araguaia, não há mais como negar que muitos foram mortos – alguns sob tortura – por agentes da repressão, inclusive com o aval dos presidentes militares.