San José, 18 mai (EFE).- A Corte Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA), conhecerá, a partir desta quinta-feira, o polêmico caso das violações durante o combate à guerrilha do Araguaia na primeira metade dos anos 1970.
O caso se refere a uma série de ações de repressão realizadas pelas Forças Armadas entre 1972 e 1975, nas margens do rio Araguaia, no Pará.
Nas ações, teria havido a detenção, tortura, desaparecimento e execução de pelo menos 70 pessoas, segundo o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil).
Dos 70 desaparecidos no Araguaia, só foram encontrados os corpos de quatro, todos graças à ação de parentes.
Parentes das vítimas e advogados do Cejil explicaram hoje, em entrevista coletiva em San José, que o caso é o primeiro a chegar para a corte interamericana relacionado com crimes cometidos durante a ditadura militar brasileira (1964-1985).
Para Viviana Krsticevic, diretora-executiva do Cejil, o caso tem uma enorme transcendência, pois serão debatidos os alcances da Lei de Anistia (1979), que até agora impediu que se investigasse a fundo o ocorrido no Araguaia.
Krsticevic explicou que, historicamente, a corte sempre reiterou que os responsáveis pelas violações aos direitos humanos não podem se amparar em leis de anistia para buscar impunidade.
A jurista disse que casos desse tipo já se resolveram a favor das vítimas em países como Peru, Paraguai, Colômbia, Guatemala e Chile, onde inclusive a Constituição foi mudada para que se pudesse cumprir a sentença do tribunal internacional.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, já reconheceu, no entanto, a possibilidade de que o Estado não acate uma eventual sentença condenatória no caso.
Beatriz Affonso, diretora do programa do Cejil no Brasil, qualificou hoje de lamentável a posição do Governo e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não tivemos o apoio que esperávamos", afirmou.
Os juízes escutarão as alegações do Estado e dos familiares das vítimas nas próximas quinta e sexta na Costa Rica.
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